sábado, 14 de abril de 2012

Relativizar a escala cartográfica

Jaime Oliva
Eduardo Dutenkefer(1)
Fernanda Padovesi Fonseca (2)



A Cartografia didática no Brasil, presente em livros de Geografia escolar, em Atlas geográficos e em propostas oficiais de órgãos públicos, é avaliada sem o ser de fato. Os critérios consagrados - compõem uma lista de exigências - e conseguem a proeza de fugir de tudo o que é essencial. Caracterizam-se pela subutilização do mapa, pelos destaques secundários, pela imprecisão e pelo desconhecimento. Um exemplo da irrelevância: é costume que editores, avaliadores oficiais e mesmo autores receitem: todo o mapa tem que ter o Norte indicado. Esse aspecto foi rapidamente tratado no artigo Quando não é adequado indicar o Norte no mapa (postado nesse blog no dia 26 de Outubro de 2008). Ora, por convenção praticamente todas as projeções estão orientadas para o Norte, então por que indicar o que já está dado e visível? Ou alguém tem dúvida que a Bahia está ao norte de São Paulo, ou que os EUA estão ao norte do México? O exagero em reiterar o que está dado vai a ponto de se cometer erros graves ao se indicar o norte no rodapé de mapas de modo a contrariar a orientação dos meridianos dada pela projeção.
Neste momento, queremos tratar de outro exemplo de exigência que se repete impensadamente e que, igualmente à questão do Norte, acarreta uma série de problemas, se não se cuidar para evitar entendimentos e procedimentos indevidos e certos excessos de interpretação. Trata-se da assertiva: todo mapa sempre tem que trazer a escala cartográfica. Em Cartografia, a escala representa uma relação de redução entre o referente (terreno) e o referido (mapa). Algo expresso com essa simplicidade é do mesmo modo expresso com clareza em termos numéricos. Por exemplo: 1:100.000, quer dizer: 1 cm no mapa representa 100.000 cm no terreno, ou 1 km. Discussão encerrada? Engano, pois isso é um ponto de partida para várias relativizações. Segundo Jacques Lévy, a Cartografia matemática durante muito tempo não quis expor à luz do dia o caráter arbitrário das escolhas em matéria de escala, resultado de opções tomadas entre uma série de possibilidades e necessidades internas da matemática e da geometria e não de uma verdade geográfica (espacial) que estaria sendo “revelada” pelo mapa (2003, p. 284). É na realização de mapas-múndi e na reflexão sobre as projeções que a acompanha que podemos verificar a falsa obviedade que envolve a escala cartográfica. A projeção de uma superfície curva sobre um plano (o mapa) obriga a escolhas: não se podem respeitar ao mesmo tempo os ângulos, os comprimentos e as superfícies. A projeção de Mercator (que respeita os ângulos) durante muito tempo dominou a produção dos mapas-múndi e nela, notem bem, a escala é variável. É maior nas altas latitudes e mais baixa nas baixas latitudes, fabricando assim uma Groenlândia maior que a Austrália (ou que a América do Sul). E sobre o terreno real a Austrália possui uma extensão quase quatro vezes maior que a Groenlândia. Isso retira da escala sua universalidade no mapa. Vamos ver um exemplo interessante do que acontece com a escala cartográfica num mapa-múndi. O exemplo foi tirado do excelente site www.progonos.com/furuti produzido pelo analista de sistemas Carlos A. Furuti que tem na análise de projeções cartográficas (e na produção de softwares) uma de suas especialidades. Observem o mapa-múndi que segue:

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